A Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) debateu, na manhã desta quarta-feira (15), ações relativas à Semana Nacional de Trânsito, que este ano tem como tema: “A organização do sistema de atendimento aos traumatizados vítimas do trânsito”. A sessão especial foi proposta pelo vereador Coronel Sobreira (MDB) e contou com a presença de autoridades de instituições de trânsito, segurança e saúde da Paraíba.
O propositor da sessão, Coronel Sobreira, afirmou que, mesmo com a diminuição de mortes no trânsito durante os últimos anos, o número ainda é preocupante. “Já tivemos 50 mil mortes por ano. Percebemos uma relativa diminuição, ano passado foram 30 mil, mas ainda há muita coisa a ser feita. Quando falamos em 30 mil mortes, falamos em 80 pessoas que morrem todos os dias no Brasil pelo trânsito. É um assunto importante, que precisamos discutir, mas não ficar só nos discursos, colocar em prática”, afirmou.
A representante estadual do Observatório de Segurança Viária, Abimadabe Vieira, reafirmou a importância da discussão, pois, segundo ela, sem fiscalização, as pessoas tendem a fazer o que querem. “Temos muitas leis, mas não tem quem fiscalize. Amanhã podemos ser nós as vítimas”, afirmou.
Para o secretário de Saúde de João Pessoa, Fábio Rocha, é preciso rigor no cumprimento das leis, com a diminuição de velocidade nas ruas e efetiva aplicação de multas. “Por que não estabelecer que nas capitais a velocidade é de 50km/h? Quem transitar a 60 km/h recebe multa e desconto de pontos na carteira, com fiscalização 24h por dia. Só se respeita as regras de trânsito se mexer no bolso”, defendeu o secretário, acrescentando que há a união de esforços na Pasta para diminuir de 30 para 10 minutos o tempo de atendimento médio de uma ocorrência do Serviço Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
O comandante do Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran), tenente-coronel Jucier Pereira de Lima, apresentou números sobre as ações do órgão durante os primeiros oito meses do ano. “De janeiro a agosto, prendemos 152 pessoas; fizemos 1.063 blitzen de João Pessoa a Cajazeiras; e registramos 22.539 notificações, multas identificadas a olho nu ou por abordagens. Não é difícil. Basta ter vontade, tem que levar muito a sério”, enfatizou.
Para o comandante do Batalhão de Atendimento Pré-Hospitalar, major Eduardo Barbosa Alves de Sousa, é preciso tomar providências de curto e longo prazo para a diminuição dos acidentes. “A fiscalização é urgente, tem que haver e ser intensa. Mas a educação é tão importante quanto. Ela será nosso resultado a longo prazo. Temos que educar o jovem de hoje para que amanhã tenhamos cidadãos melhores, cumpridores da lei”, afirmou.
Educação para o trânsito
O superintendente executivo de Mobilidade Urbana, George Morais, falou que desde janeiro a administração da Pasta, juntamente com toda a gestão do prefeito Cícero Lucena, têm se empenhado em ir às ruas para a realização de ações efetivas, que possam levar à toda população a mensagem de educação, respeito e responsabilidade no trânsito. Para ele, a Semob tem o papel de gerar fluidez no trânsito, mas a missão mais nobre que qualquer secretaria de mobilidade pode ter é a de salvar vidas.
A diretora de educação do Detran-PB, Ana Paula, informou que o órgão tem realizado diversas campanhas educativas, como a do Verão, de Carnaval, do Motorista, do Pedestre, do Maio Amarelo e da Semana Nacional de Trânsito, a fim de “conscientizar a população dos riscos que envolvem a violência e a falta de empatia no trânsito”. Sobre as ações que têm sido realizadas nas escolas, ela disse: “Nosso objetivo com esse trabalho é que tenhamos multiplicadores, para que os futuros condutores entendam a importância de haver responsabilidade, empatia e tolerância no trânsito, para que acidentes como o desse final de semana não voltem a acontecer”.
O Coronel Sobreira destacou uma Indicação de sua autoria que propõe uma ação pedagógica aos estudantes ciclistas. “Queremos criar o programa de capacitação de trânsito e ciclismo baseado nos procedimentos do Detran. Os alunos se submetem, de forma simbólica, a 12 horas de aula de direção defensiva para bicicletas, primeiros socorros e meio ambiente. Após isso, iriam ao Detran fazer a prova, também simbólica, e receber a permissão para andar de bicicleta. Seria algo muito importante e pioneiro no Brasil”, explicou o vereador, destacando que a Indicação aprovada depende de aceitação do Executivo Municipal para ser colocada em prática.
O coordenador da Controladoria Regional de Trânsito, Urbano Júnior, afirmou que trabalha diretamente com os centros de formação de condutores e enfatizou que a conscientização tem que vir da base. Ele ainda apresentou uma inovação no teste de direção a ser implantada. “O Denatran tem algumas atitudes para tentar formar condutores mais responsáveis e conscientes na base. Estamos implantando na pista de prova de direção um ciclista para que o motorista mantenha a distância de 1,5m. Temos que unir forças para que haja um olhar diferenciado para o ciclista e também para o corredor de rua”, colocou, ressaltando que no trânsito a responsabilidade de cada um salva vidas.
Ação conjunta
Segundo o chefe do Núcleo de Segurança Viária da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Ricardo Diniz, é preciso o fortalecimento das instituições e o trabalho em conjunto para que os acidentes sejam evitados. “Temos que trabalhar juntos o fortalecimento das instituições de trânsito para que elas ajam com rigor. Estamos trabalhando na PRF com três bases: a infraestrutura viária; a educação no trânsito, com parcerias para levar conhecimento às escolas, para que as crianças sejam indutoras de conhecimento na família; e a fiscalização, que vamos ter que apertar mais e mais”, explicou.
O representante do Departamento de Estradas de Rodagem da Paraíba (DER-PB), Antonio Fleming Martins Cabral, ressaltou a importância da união das instituições para obter êxito na prevenção de acidentes. “Mais um acidente acontece e as pessoas vão esquecendo o passado e tratando como se fosse tudo novo, mas é um problema que acontece há muito tempo. A fiscalização precisa ser enérgica. Vamos juntos unir todos os poderes e fazer ações integradas, com os pés no chão e condutas enérgicas”, sugeriu.
Atendimento
O médico Laércio Bragante, diretor do Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, pediu atenção para o atendimento no ambiente hospitalar e salientou: “É preciso qualificar os setores de emergência para atuar de forma qualificada e urgente. As unidades devem estar preparadas para atender com rapidez e humanização, porque envolve também os familiares”. “No hospital, não conseguimos prevenir o acidente, mas podemos ter prevenção da mortalidade, com atendimento rápido e de qualidade”, acrescentou.
Já o médico Milton Steinman, também professor de urgência e emergência na Faculdade Israelita Albert Einstein, explicou que “além da pandemia da Covid-19 que estamos passando, vemos uma outra questão mais complexa e crônica, que são os acidentes, não somente de trânsito, mas de violência interpessoal também”. Ele enfatizou que uma das formas de lidar com a questão passa por organização e integração: “Precisamos lidar com traumas tentando organizar o atendimento, a exemplo do que tem sido feito fora, com organização, integrando os diversos recursos existentes”.
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