A implantação de um bônus regional para ingresso de alunos na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) foi um dos temas debatidos em sessão especial realizada na manhã desta quarta-feira (8), na Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP). A ideia é que estudantes que residam no entorno dos campi universitários – ou tenham concluído o ensino médio em escolas públicas ou privadas localizadas em municípios situados até 200 quilômetros dos mesmos – sejam beneficiados com a política. O encontro, proposto pela vereadora Eliza Virgínia (Progressistas), também debateu o uso da linguagem neutra nas escolas.
A concorrência acirrada e a diferença de nível entre alunos no Brasil foram alguns dos argumentos de Eliza Virgínia para defender o bônus regional. “Sabemos que o nível dos alunos de estados mais ricos e mais desenvolvidos geralmente é melhor, o que faz com que as vagas das universidades sejam ocupadas por estudantes de outras regiões. Sendo assim, a implantação do bônus regional na UFPB fará com que as vagas para alunos da Paraíba sejam mais protegidas, já que os estudantes da nossa região encontram dificuldades para ingressar em outras universidades, enquanto no nosso estado quase nunca existiu objeção para os alunos de outros locais ingressarem”, justificou a vereadora.
O reitor da UFPB, Valdiney Gouveia, afirmou que a implantação do bônus regional é uma solicitação justa. “É uma luta necessária, uma vez que diversos estados assumem essa bonificação, como os vizinhos Pernambuco e Rio Grande do Norte, o que torna a batalha desleal. Há um pedido da sociedade para que a gente conceda essa bonificação, que pode ir até 20%”, informou.
De acordo com Valdiney Gouveia, os estudos realizados para elaborar a minuta para implantação do bônus regional, com dados dos últimos cinco anos, revelam que a representação de estudantes de fora chega a ser de 60%, não só no curso de medicina. “Pudemos ver que os estudantes vindos de outros estados regressam à região de origem. Temos a Paraíba sendo invadida por estudantes de diversos outros estados, ocasionando também dano pela evasão de profissionais qualificados. Nesse sentido, começamos a fazer cálculos para saber qual seria a bonificação mínima para reparar essa defasagem, e elaboramos uma minuta que prevê a bonificação inicial de 10%”, explicou o reitor, completando que a minuta ainda será apreciada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) e que prevê a possibilidade de aumento da porcentagem de bonificação após avaliação anual.
“Fica aqui o nosso apoio aos estudantes paraibanos para que possam, cada vez mais, ter de fato acesso à nossa universidade. A UFPB está de portas abertas para acolher a quem quer que queira ingressar, mas temos que garantir que nosso estado continue se desenvolvendo. Para isso, nada melhor do que contar com profissionais qualificados”, concluiu o reitor Valdiney Gouveia.
Evasão de profissionais
Segundo o professor Antomari Trajano, a implantação do bônus regional vai sanar não só a desvantagem para alunos paraibanos, como também a evasão de mão de obra qualificada. “Quando a gente recebe alunos de estados, com PIB maior e com maiores investimentos na cultura educacional, essa guerra torna-se desleal. Os alunos de outros estados entram numa ‘peleja’ quase vencida. E, depois de todo o processo de aprendizado, quem fica com o prejuízo é a Paraíba, pois os alunos de fora voltam aos seus estados de origem e ficamos com déficit na qualificação de mão de obra”, explicou, ressaltando ainda a necessidade de investimentos na infraestrutura educacional e em tecnologias para que os profissionais formados fiquem na Paraíba e possam trazer lucros para o estado.
O professor Daniel Nóbrega chamou a atenção para a importância de o mercado absorver esses novos profissionais, a fim de que, ao finalizarem o curso, não precisem ir para outro lugar do país para encontrar emprego na sua área de formação. “Aqui na Paraíba temos este outro problema: a gente perde as vagas e o mercado não absorve todos os profissionais. Então, temos que fomentar a pujança do mercado para absorver profissionais de alta qualificação e conseguir formá-los aqui”, defendeu.
Ao final do debate, Eliza Virgínia destacou que a implantação do bônus regional em 10% é um grande começo, mas espera que esse percentual seja igualado ao de outros estados e que no próximo Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) haja aumento considerável dos alunos paraibanos.
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